quarta-feira, 4 de agosto de 2010

CASA VALDUGA SECULUM 2000 CABERNET FRANC – BRASIL - #CBE



CASA VALDUGA SECULUM 2000 CABERNET FRANC – BRASIL - #CBE;
45º Vinho para a Confraria Brasileira de Enoblogs.

Frustração? Experiência ou experimentação? Afinal, comprar um vinho que dá todos os indicativos de que foi maltratado é uma atitude boba ou uma atitude de investimento para “conhecimentos enológicos”? E ainda assim: Será que valeu a pena? Será que vale este tal “investimento”? Vejamos...

Como de praxe, todo mês um confrade aponta uma sugestão de degustação para toda a Confraria Brasileira de Enoblogs. A deste mês, casta Cabernet Franc brasileira, foi previamente indicada pelo confrade Jurandir do blog: Eu e o vinho; Escolha excepcional ante uma uva que aparentemente julguei ser de difícil presença como uma varietal 100% nos vinhos nacionais. Mas não, ledo engano. O Brasil dos vinhos finos evoluiu e já oferece um respeitado leque com a Cabernet Franc. Basta, em especial após esta iniciativa mensal da CBE, clicar nos blogs associados e “garimpar” o que o mercado oferece. Curiar sobre o que escreveram os demais membros da CBE.

Sim, os confrades escreveram e...publicaram. Mas, o Atlan Vitis... ficou matutando três dias se publicava ou não o vinho do mês. Se escrevia ou não sobre o vinho adquirido e “parcialmente degustado”. E então... perdoem-me pelo atraso na publicação de um vinho que tentei degustar e que agora apenas serve de mote para uma resenha, uma historieta. Acompanhem...

Natal, cidade cosmopolita e capital de um bravo estado elefante, o Rio Grande do Norte, é considerada por muitos como um verdadeiro paraíso graças às suas belezas naturais e ao aconchego do povo. Dizem que quem chega por aqui são “abrisabraçados” pelos que fazem a atmosfera local e, obviamente, pelo próprio clima.

Certamente, como ocorrem com inúmeras outras cidades mundo afora, Natal serve de cenário para degustarmos vinhos e mais vinhos, independente de seus países de origem, independente de suas safras, gostos e bolsos.

No entanto, e posso falar com propriedade, Natal não oferece as condições ideais para a guarda de vinhos. Sol intenso, luminosidade extrema, temperatura mínima (eu disse mínima hein!) na casa dos 23,24 ou 25 graus em média, umidade relativa do ar sempre rondando a casa dos 100%, dentre outros fatores típicos de um litoral nordestino e de uma cidade com alguns focos de “rush” térmico, são indícios claros, claríssimos, do quanto um vinho irá sofrer por aqui.
Salvo aqueles que se comprometeram a ter em suas casas ou estabelecimentos comerciais toda uma aparelhagem (adegas, etc.) necessária às necessidades de guarda dos vinhos, minha querida Natal, definitivamente, não é um paraíso para a guarda de vinhos. É compreensível, concordam? Mas vejam só: apenas para guarda. Para degustar... hum até parece que o vinho fica mais encantador. Será? Venham conferir...

E, sabedor disto tudo, após rodar por duas semanas na caça por um Cabernet Franc Brasileiro disponível, apenas pude ter a chance (afora pela internet) de adquirir uma garrafinha de 375ml do vinho numa loja de turismo, especializada em castanhas de caju.

Esta loja eu já conhecia. Uma loja sem ar-condicionado. Já comprei castanhas por lá. Loja sem nenhum cuidado com circulação de ar, por certo para atrair os clientes turistas pelo cheiro das castanhas potiguares (eu sou fã de castanhas!). Sim... inclusive presenciei sua mudança de endereço recentemente: saiu de uma rua super quente e ensolarada da badalada praia bairro de Ponta Negra para, 300 metros adiante, um píer turístico ainda em construção, também quente e sem refrigeração.

Bem, seria um sonho que os vinhos disponíveis desta loja pudessem ter sua devida acolhida numa adega própria etc. Porém, certos estão os donos. É uma loja de vender castanhas. Os vinhos estão ali para... um dia vou descobrir! E olha que há bons exemplares, talvez raridades.
Raridades como a que julguei encontrar. Tanto que dispensei a internet na compra deste Cabernet Franc. Comprei no dia 30 de julho, dois dias para a postagem do dia 01 de agosto, a postagem mensal da CBE.

Assim, antes de criarmos coragem em ler a ficha de degustação abaixo, faço um apanhado geral de como e em que estado estava as garrafinhas de 375ml, safra ano 2000, da Casa Valduga:

1. Loja nova, abafada e quente, com intensos cheiros de verniz misturado com o habitual cheiro de castanhas caipiras, castanhas doces, amanteigadas, fritadas, com gergelim, etc;

2. Garrafinhas na horizontal, porém, em estante aberta e ao lado da chapa fogão de torra das castanhas;

3. Conversando com um dos donos descobri que na mudança recente da loja os vinhos foram transportados em camionete pau de arara, ou seja, ao léu e ao sol generoso de Natal;

4. A rolha, assim como o estado geral da garrafinha, estava em boas condições... era um sinal de esperança! Será?!

Vamos ao vinho!
CASA VALDUGA SECULUM 2000 CABERNET FRANC – BRASIL - #CBE
Produtor: Casa Valduga, RS – Brasil
12,5% teor alcoólico; -R$ 15,00 R$- (375ml)
Prova: 30 e 31/07/2010 em Natal/RN

COPO/COR: Tijolo, telha e barro em matizes e cores predominantes. Água barrenta. Um leve traço tonalidade de uva passa preta. Algumas lágrimas discretas, perdidas. Formação de cristais e de uma espécie de areia liquida na garrafa, na taça e no decanter. Uma década de impregnação vinica?

AROMAS: Café bem torrado (tostados quase horripilantes). Ares terrosos, barrento. Uvas passas. Talvez passas torradas. Presença também de um cheiro de chapa de frigideira incrustada de pão queimado. Vinagre. Balsâmico forte, enjoado.

Intermezzo: Por favor, não pensem que a loja referida é um pandemônio comercial. Alias, muito longe disso. É uma loja referência em castanhas de caju, souvenires nordestinos, muitas cachaças e ... vinhos. Vinhos? Nossa, êita mundão cheio de histórias!

BOCA: Um mistério. Estaria apto a ser degustado? Estaria “bebível” este Cabernet Franc brasileiro?

PÓS-BOCA: Persistência praticamente nula ante o golinho (foi um golinho medroso mesmo!) em boca. Exceção para o forte aroma de tostados terrosos permeando a boca.

IMPRESSÃO ATLAN VITIS: Até agora e acredito que por um bom tempo estarei escavacando as minhas impressões ante o beliscar que foi a minha degustação em boca, em olhar, em tudo, deste Cabernet Franc adquirido numa loja turística nordestina. Frustração? Experiência ou experimentação? Afinal, comprar um vinho que dá todos os indicativos de que foi maltratado é uma atitude boba ou uma atitude de investimento para “conhecimentos enológicos”? E ainda assim: Será que valeu a pena? Será que vale este tal “investimento”? Ao menos tenho uma resposta título pra tudo isso: Um Cabernet Franc que virou história – parte única.

Em tempo: Este vinho não fez mal à saúde deste editor. Até então!!! rs

5 comentários:

  1. Claramente o vinho tava morto e/ou deteriorado (oxidação), como você mesmo indicou de forma bem humorada. Mas achei muito válida a experiência, ainda assim.

    Volta e meia eu gosto de tentar uns nacionais 2004,2003,2002, pra ver se ainda estão vivos e se mexendo!

    Se o vinho não foi bom, pelo menos caro também não foi. E você saiu com história pra contar!

    Um abraço!

    Alexandre
    http://www.etilicasnotas.com

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  2. Ah, velhão, e acabei de ler teu comment lá no Notas Etílicas.

    Manda bala no Almadén Cabernet Sauvignon. A idéia é justamente experimentar!

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  3. Oi Daniel, adorei sua postagem. É quase uma crônica! Vc podia acrescentar algo de imaginário a esta sua jornada e colocar um Robert Parker dando nota a este vinho...!!!rsrsrs. Brincadeiras a parte, tudo é válido, inclusive sua atitude de colocar em risco sua integridade intestinal em prol da C.B.E.!!! Um grande abraço.
    Carlos Fernando ( Vinho com Prosa )
    cfhnasc@gmail.com

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  4. Meu caro, depois de ler seu comentário posso assegurar que tive muita sorte. Comprei em duas ocasiões vinhos dessa safra. Encontrei em Araguari (MG) algumas garrafas do Merlot, CF e um Assemblage. Outra vez comprei um Assemblage em Uberaba (MG). Embora por aqui o calor também não dê muita trégua, os vinhos estavam bem acondicionados e foram uma surpresa positiva.

    Eram garrafas de 750 ml.

    Boa sorte na próxima.

    Saúde!

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  5. Daniel,
    Sua postagem foi interessante. Quanto a fazer tentativas com vinhos nacionais antigos de preços convidativos em locais onde, provavelmente, não foram guardados em condições ideais, em geral supermercados, não é um previlégio seu. Eu também faço isso. E, às vezes, existem boas supresas. É o caso do Raschiatti Merlot 2000 que adquiri o ano passado em uma viagem à Fortaleza. Se tiver interesse o veja em meu blog (eu e o vinho) pesquise pelo marcador "Merlot".
    Um abraço,
    Jurandir

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